24 de abril de 2024

Líderes indígenas temem impacto ambiental por ligação do Juruá com o Peru

O piau, peixe outrora abundante nos rios, igarapés e lagos do Vale do Juruá e de fácil captura, um dos principais da dieta alimentar na região, principalmente entre os povos indígenas, praticamente desapareceu na região. Não se captura nem de anzol nem de tarrafa porque o pescado simplesmente sumiu.

A constatação é do líder indígena Joel Puyanawa, cacique do povo eu leva seu sobrenome, que vive na Aldeia Barãonos arredores do município de Mâncio Lima, que aponta o desequilíbrio ambiental como o principal motivo para o desaparecimento do peixe. De acordo com o cacique, um dos principais motivos para o sumiço do pescado é a seca dos rios da região. “Esta foi a primeira vez que o rio secou antes de o capim florar”, disse o líder indígena.

Foi a partir de preocupações como a do cacique Puyanawa que líderes indígenas da região estão se juntando a um consórcio de oito prefeituras do Vale do Juruá, Tarauacá e Evira, para, a partir de Cruzeiro do Sul, buscar mecanismos de desenvolvimento com respeito ao meio ambiente. Uma das grandes preocupações é com o futuro das populações indígenas na região. Os oito municípios envolvidos na articulação são Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Tarauacá, Feijó e Jordão.

Joel Puyanawa diz que no Juruá já falta peixe do tipo Piau por causa dos impactos ambientais/Foto: reprodução

Esses municípios englobam 28 terras indígenas (TI), concentrando a maior parte dos 19 mil indígenas do Acre, cujas lideranças reivindicam dialogo com todas as instâncias públicas e estar presente na construção dos projetos de desenvolvimento. Parte deste processo com o consórcio já iniciou, nesta semana, ocorreram diversas reuniões entre os prefeitos e lideranças indígenas, em Cruzeiro do Sul, disse um dos líderes do movimento, Francisco Pyako, líder do povo indígena Ashaninka do rio Amônia, da TI em Marechal Thaumaturgo.

As pautas mais urgentes da agenda indígena na região são a construção da continuação da BR-364 entre a cidades de Mâncio Lima e de Pucallpa, em território peruano, além da construção um projeto de desenvolvimento para ser apresentado ao programa federal Fundo Amazônia.

Há duas propostas em debate em relação a ligação brasileira com o Peru. Uma, de autoria do senador Márcio Bittar (MDB-AC), prever a construção de pelo menos 150 quilômetros de rodovia de Mâncio Lima a Pucallpa, que seria na verdade a continuidade da BR-364 segundo o seu traçado original, criado nos anos de 1950 pelo então presidente Juscelino Kubistchek. A obra atravessaria a floresta, por dentro da Serra do Divisor, por uma localidade onde a montanha se apresenta ainda em baixo relevo, o que ajudaria a obra, defende o senador Márcio Bittar.

A outra proposta é de construção de uma rodovia ou ferrovia entre o Brasil e Peru, saindo de Mâncio Lima até a cidade de Lima, a capital peruana. A obra seria financiada com capital do governo da China. Os líderes indígenas acreanos, que vêm debatendo a questão, não criam objeção a nenhuma das ideias, mas defendem os projetos, qualquer que seja o escolhido, tem que seguir todo e qualquer processo de análise do impacto ao meio ambiente e as consultas públicas em relação aos povos afetados.

“O impacto é uma realidade porque a via iria afetar pelo menos três terras indígenas e um parque nacional, que é a Serra do Divisor, diretamente, mas também afeta todas as outras terras indígenas da região”, disse Pyiako.

O primeiro território com maior impacto seria do povo Povo Puyanawa, em Mâncio Lima, aquele cujo cacique já constata a escassez do peixe tipo Piau para alimentar sua comunidade, que, mesmo antes de as obras começarem, já denunciam sofrerem as consequências de ações desordenadas no seu entorno, como abertura de ramais e invasão de sua área.

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