18 de abril de 2024

Conheça Guillain-Barré, síndrome rara e autoimune: ‘grave, rápida e aguda’, diz especialista

Embora tenha surgido há alguns anos como diagnóstico de doença, muitos desconhecem a comprometedora e perigosa Síndrome de Guillain-Barré, que afeta diariamente cinco pessoas em todo o Brasil, de acordo com os dados coletados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

No Acre, os números ainda são imprecisos, mas já há casos notificados e recebendo os devidos tratamentos, de acordo com a Secretaria de Saúde (SESACRE).

A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune inflamatória dos nervos e de suas porções próximas à suas origens junto a medula espinhal, caracterizada por quadro de fraqueza muscular progressiva, o que pode levar, em alguns casos, até a insuficiência respiratória. É uma das doenças causadas pelo Zika vírus, mas esta não é sua única causa. Ela pode ser caracterizada como problema neurológico que envolve os nervos periféricos das pernas e dos braços, normalmente secundário a uma infecção viral, bacteriana respiratória ou intestinal.

A Síndrome de Guillain-Barré ocorre quando o próprio sistema de defesa do corpo ataca os nervos periféricos/Foto: Reprodução

Na síndrome de Guillain-Barré, o sistema imunológico de uma pessoa, que é responsável pela defesa do corpo contra organismos invasores, começa a atacar os próprios nervos, danificando-os gravemente.

De acordo com a médica acreana e neurologista, Claudiana Vieira, que cedeu entrevista ao ContilNet na última quinta-feira (25), a síndrome é aguda e evolutiva, atuando de forma rápida no organismo.

“É uma doença aguda e evolutiva, também rápida, que comumente inicia nos membros inferiores. Compromete o sistema nervoso periférico e os nervos”, esclareceu.

Ao abordar os sintomas principais, destacou: “Os indicadores são: sensação de formigamento e peso nas pernas, dificuldades para realizar movimentos, que podem iniciar nos braços e até na face, com presença de insuficiência respiratória”.

Claudiana afirmou que o quadro é mais comum em adultos e que o tratamento é medicamentoso, com prevenção de complicações futuras.

“O suporte medicamentoso é imprescindível. Caso haja o surgimento destes principais sintomas, é importante procurar um neurologista ou infectologista”, pontuou.

O Ministério da Saúde confirmou a associação entre a Guillain-Barré e o Zika vírus em dezembro de 2015.

“Sendo instituído um tratamento de suporte adequado e em tempo hábil, é possível obter algumas remissões, embora também possam haver complicações relacionadas à patologia, dentre elas: as agudas, que vão desde as infecções respiratórias, até úlceras de decúbito e tromboembolia, e as tardias, quando não há reversão do déficit de paralisia, que se torna permanente, atrofias e etc”, comentou.

Ao final, Vieira enfatizou os cuidados inerentes aos processos de prevenção e pósvenção: “Levando em consideração os riscos virais, é sempre necessário manter os ambientes limpos (casa, quintal, terrenos, calçadas), cuidar da alimentação e mantê-la saudável, lavando corretamente os alimentos, não esquecendo de se hidratar a todo momento”.

CONHEÇA A HISTÓRIA DE LUANDA

A estudante de Pedagogia e esportista, Luanda Vitoriano, 24 anos, tem uma história com o diagnóstico de dificuldade e, sobretudo, superação.

Quando foi infectada com dengue em fevereiro de 2018, descobriu, dois dias após o surgimento dos primeiros sintomas, que havia desenvolvido a Síndrome de Guillain-Barré. A estudante disse, em entrevista, que sentia fortes dores nos olhos e febre: “Eu fui ao médico pela primeira vez e já sabia que estava com dengue”.

A jovem tem uma história de superação/Foto: Reprodução

Após voltar da consulta, no outro dia, Luanda comentou que sentiu dificuldades para andar, devido uma forte sensação de dormência que atingia a perna esquerda, sendo necessária a ajuda de uma pessoa para que pudesse se locomover: “Pensei logo que era porque estava dormindo demais, por ficar muito tempo deitada em repouso, mas foi ficando pior. A dormência puxava minha perna e me impedia de andar sozinha”. Ao comentar com seu esposo, Rodrigo Canizo, professor e formado em Ciências Biológicas, começou a associar os sintomas de suas esposa com o possível diagnóstico da síndrome em questão.

A jovem foi levada para o hospital de urgência na ambulância. Ao relatar para o médico o seu quadro, viu que o especialista já começou a suspeitar de algo mais grave, solicitando alguns exames.

“Quando cheguei no PS, naquela condição, o médico solicitou uma tomografia e a coletagem de um líquido da coluna, que podia dar com mais precisão o diagnóstico. Ele constatou a síndrome, após o resultado. Aquilo me desequilibrou psicologicamente. Eu estava com uma doença e não sabia o que fazer”, explicou.

Luanda durante o período de internação/Foto: Reprodução

Após o diagnóstico, a estudante foi levada para o centro de internação do hospital, para iniciar o tratamento, que durou aproximadamente 5 dias, com mais 12 dias de recuperação sistemática.

“Eu não fui colocada em um leito isolado e isso me tornava mais suscetível a adquirir algumas infecções que pudessem agravar o meu caso. Tive a ajuda de muitas pessoas. Tinha o máximo de zelo pelo meu corpo, não deixava que me tocassem, porque precisava preservar minha vida naquele momento”, disse.

Angustiada com o processo de internação, Luanda, após os 18 dias, pediu para que fosse liberada do hospital, pois já conseguia se locomover para alguns lugares, mesmo com a ajuda de seus cuidadores. O dia do seu aniversário se aproximava e, o que ela mais desejava era voltar pra casa: “Eu não queria mais ficar ali. Não suportava mais. Me responsabilizei pela saída e intensifiquei os cuidados em casa. Não andava sozinha ainda, precisava sempre da ajuda do meu esposo”.

No vídeo, a chegada da estudante em casa:

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Ao enfatizar o sucesso do processo de reabilitação, Luanda diz que precisou fazer fisioterapia e pilates, para ter o retorno de alguns movimentos dos membros superiores e inferiores do corpo: “Não sabia segurar uma colher pra comer, não sabia andar direito. Precisava sempre de alguém pra me dar de comer, dar banho, me limpar. Foi muito difícil. A partir disso, passei a fazer exercícios de fisioterapia e pilates, que me deram uma melhora de 80% até o momento. Depois de um mês, com algumas restrições, já conseguia dirigir sozinha. Me surpreendi com o tempo dessa melhora”.

Luanda recuperou a maior parte de seus movimentos com auxílio fisioterapia e o pilates/Foto: Reprodução

Hoje, com pouco menos de um ano desde a descoberta da síndrome, Luanda confessa que não foi fácil, mas reconhece sua resistência, a importância do amor de algumas pessoas que lhe ajudaram e a coragem de enfrentar as dificuldades: “Sei que não é fácil receber uma notícia dessas. Provei na pele. Mas é possível vencer, quando há disponibilidade e cuidado, paciência e coragem. Aprendi a ser um ser humano muito melhor do que eu era antes. Aprendi a viver cada minuto da minha vida como se fosse único e, amar mais ainda, quem está ao meu lado. Eu aprendi a amar a vida como nunca amei”.

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